Prof. Dr. Jack Brandão
 
 
Apontamentos de linguística

Não perca os próximos vídeos,
inscreva-se em meu canal!
 
 

A Idade Média e os estudos linguísticos

 

Idade Média

Ideias (bem) gerais    

  • Com a queda do Império Romano do Ocidente (476) e a penetração das tribos germânicas, alterou-se a estrutura demográfica e política da Europa Ocidental;

  • As tribos germânicas pouco contribuíram para o léxico das línguas neolatinas;

  • A Igreja inicia o processo de cristianização das tribos bárbaras que absorvem a cultura romana, entre elas a língua latina (missionários trabalhavam com a gramática latina);

  • A Igreja passa a ser detentora e protetora de conhecimentos a partir dos mosteiros, abadias e igrejas;

  • O  latim não só mantém sua posição de língua de erudição como também da diplomacia e cultura, além disso, passa a ter uma importância até maior da que possuía em seu próprio tempo;

  • O grego deixa de ser falado no Ocidente, sendo mesmo desvalorizado, sendo necessário fazer traduções para o latim de obras de seus autores;

  • O estudo da gramática latina foi continuado na Idade Média, cujo modelo foram as de Donato e Prisciano que foram pouco modificadas no período;

  • Necessidade de uma gramática universal;

  • Roger Bacon (1214-1292) teve contato com a cultura árabe e estudou hebraico;  

 

Os universais

  • Universais era o termo usado para designar os conceitos (idéias) de natureza geral, enquanto os objetos empíricos (flores, árvores, etc.) eram sempre conhecidos como entidades individuais. Os predicados que lhe eram referentes na forma de palavras, branco ou vermelho, eram universais. Se o objeto é particular, o termo geral que o designa é universal.

  • Para Anselmo (1033-1109), Tomás de Aquino (1225-1274) e Duns Scoto (1266-1308), os conceitos universais têm fundamento na coisa (res). Cada coisa, além de seu elemento individual, teria algo em comum com as demais coisas; este algo em comum, tomado em abstrato, seria o conteúdo do conceito universal.  

Sistema modístico

  • Ocupados com o modo de significar dos termos (orais ou mentais), os gramáticos medievais são chamados, freqüentemente, de modistas;

  • Os gramáticos modistas acreditavam numa iconicidade essencial entre as coisas do mundo e a estrutura da linguagem (na esteira de Aristóteles). Uma vez que a iconicidade dependia das coisas do mundo, todas as linguagens tinham a mesma estrutura profunda. Tentaram criar uma gramática universal ou especulativa.

  • Os modistas destinguiam três dimensões da semiose linguística: coisa (res), entendimento (intellectus), voz (vox).

  • Três modos de significação estavam associados a estas três dimensões da semiose:

a) modus essendi (modo de ser) fornece fundamento ontológico à semiose, caracteriza a natureza das coisas;

b) modus intelligendi (modo de entender), as estruturas essenciais são percebidas pela mente humana através desse modo (desde a tradição aristotélica que os conceitos são iguais para todos os homens, sendo o resultado de impressões sensíveis externas), o modo de ser precede o modo do entendimento, tal como na causa precede o seu efeito (o ato de percepção e conceitualização pelo modo ativo do entendimento (modus intelligendi activus), as entidades mentais resultantes pertencem ao entendimento passivo (modos intelligendi passivus);

c) modus significandi (modo de significar), a coisa e o conceito são designados sob a forma de palavras como resultado de um ato de imposição, a palavra é composta por um significante vocal (vox) que é associado a um referente (significatum).  

  • Apenas a associação de um som fonético com um referente específico faz com que a vox se transforme num signo verbal (dictio), cuja função semântica é o modo de significação. Por uma imposição, o significante vocal é conectado com um referente especifico. Este processo constitui uma relação chamada significação (ratio significandi). A palavra resultante é arbitrária e especifica de uma língua. Por um segundo ato de imposição, a palavra é associada a vários modos de significação que derivam das suas formas gramaticais. Todas as categorias gramaticais ou partes de discurso são interpretadas como tendo características semânticas gerais que se combinam com o sentido lexical básico da palavra. A relação semântica deste modo é chamada consignificação (ratio consignificandi). Este sentido não é arbitrário, corresponde ao modo de entendimento dos conceitos e é universal. Os modos de significação são criados pelo intelecto, que relaciona a palavra com o modo de ser da coisa. O estudo dessas dimensões das categorias universais da linguagem formam o núcleo da semiótica modista.  

  • Os modistas foram grandes desenvolvedores da sintaxe:

a) Nome e verbos fundamentais para a construção sintática;

b) Noção de sujeito e predicado;

c) Orações principais x orações subordinadas;

d) Distinção entre substantivo e adjetivo;

e) Definiram melhor as preposições.