Verbo é a
classe de palavra que possui a maior quantidade de flexões: tempo,
modo, pessoa e número. Isso nos ajuda a identificá-lo, pois enquanto
outras palavras não podem ser conjugadas, o verbo
pode
eu escrevo / eu
escrevi
ele escreve / ele escreveu
Além disso, o verbo expressa ação, estado.
E não só isso. Pode expressar o resultado de uma ação: "Cláudio
comprou um livro". Uma sensação: "Ele se apavorou". Um sentimento:
"Eu não o invejo"; e muitas outras ideias, sempre com a
possibilidade de referir-se a alguém ou a algo – o sujeito – e de
situar-se no tempo passado, presente e futuro. O verbo também é
essencial para a ação. Não existe oração sem verbo e, às vezes,
basta o verbo para que a oração esteja completa:
Ganhei!
Cheguei.
Chove.
Uma forma verbal é constituída por radical,
desinências, vogal temática.
Radical ou lexema:
onde se concentra o significado do verbo. Repete-se em todas as
formas, salvo nos verbos irregulares:
Cantei, cantaste,
cantou
Desinências:
indica o modo, o tempo, o número e
a pessoa:
Falássemos
-sse-: desinência
modo-temporal (subjuntivo-pretérito imperfeito)
-mos:
desinência número-pessoal (1ª pessoa do plural)
Vogal temática: além de
permitir a ligação do radical com as desinências, indica a que
conjugação o verbo pertence:
Falaste
– a – 1ª conjugação (verbo falar);
Vendeste
– e – 2ª conjugação ( verbo vender);
Partiste
– i – 3ª conjugação (verbo partir).
O tempo verbal indica o momento em que o
processo verbal acontece: se é anterior, simultâneo ou posterior.
Essas possibilidades são expressas pelo:
Pretérito, que pode ser
perfeito (ação iniciada e concretizada no passado), imperfeito (ação
iniciada e não concretizada num dado momento)
e mais-que-perfeito (ação
iniciada e concretizada no passado anterior a outra também realizada
e concretizada no passado);
Presente é o momento, o
agora, o átimo; é indivisível;
Futuro, que pode ser do
presente (ação certa) e do pretérito (ação provável dependente de
outra).
Além dessas ideias, podemos afirmar que os
tempos verbais também podem estabelecer outras relações:
Presente do indicativo,
além de revelar simultaneidade, pode indicar:
a)
Um processo habitual:
Eu ando de bicicleta pela manhã.
b)
Um processo permanente:
A água ferve a 100ºC.
c)
Futuro:
Amanhã eu volto!
d)
Passado (o presente histórico):
Os revolucionários chegam à Bastilha e a
tomam.
→ O presente
do verbo estar
+ gerúndio pode transmitir simultaneidade:
O que você está fazendo?
Estou lendo.
Imperfeito do indicativo,
além de indicar uma ação iniciada e não concluída no passado, pode:
a)
ter valor de futuro do pretérito, sobretudo na linguagem coloquial.
Se eu não fosse tímido, te dava um beijo!
b)
indicar uma ação passada habitual ou repetitiva:
Ia ao parque e caminhava como se aquilo
fosse sua religião.
c)
indicar polidez para atenuar uma afirmação ou um pedido:
O senhor podia chamar a Sandra?
Mais-que-perfeito
do indicativo, pode
indicar, na literatura, futuro do pretérito ou imperfeito do
subjuntivo:
[...] Mais servira se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.
(Camões)
Futuro do presente e
o
futuro
do pretérito do
indicativo podem
indicar presente ou passado, com nuances de dúvida, de idéia
aproximada. Desta forma, esses tempos verbais são muito usados na
linguagem coloquial:
Ela terá hoje uns vinte anos.
Ela teria naquele tempo uns dezessete anos.
Essas e outras variações servem para dar um
valor especial ao texto. Por estar fora de seu contexto real nas
orações acima, o verbo ter pode ser substituído pelo verbo estar sem
que isso altere a idéia da oração:
Ela estará hoje com uns quinze anos.
Ela estaria naquele tempo com uns quinze
anos.
O futuro do presente
também pode ter valor imperativo:
Não cobiçarás a mulher do próximo.
Temos, na Língua Portuguesa, três
modos verbais:
Indicativo:
exprime, em geral, ideias objetivas e não dependentes de
outra.
Eu escreverei um livro.
Subjuntivo:
exprime em geral ideias subjetivas, hipotéticas, fazendo sempre
parte de
uma oração subordinada.
Se eu fosse capaz, escreveria um livro.
Imperativo:
exprime ordem, pedido,
súplica.
Escolha um livro!
Tais ideias, entretanto, não são tão
rígidas, pois é possível
a) usar o indicativo em situações
hipotéticas:
Se eu te pego colando, recolho tua prova!
b) usar o subjuntivo em situações reais:
Como estivesse de bermuda, não o deixaram
entrar.
c) pedir ou mandar sem usar o
imperativo. O futuro do pretérito sugere boas maneiras:
Motorista, poderia
parar no próximo ponto?
O momento de ocorrência de um processo
verbal é marcado pelo tempo, mas há ainda certas marcações que
indicam outras gradações do mesmo. São os aspectos verbais, que
podem indicar, por exemplo,
a) se um processo verbal foi concluído
(aspecto perfeito):
Ele jantou fora.
b) se o processo verbal se estende por um
período (aspecto imperfeito):
Ele janta fora aos domingos.
c) se ele está no início (aspecto
iniciativo):
Ele começou a jantar.
d) ou se o processo verbal está no fim
(aspecto conclusivo):
Ele acaba de jantar.
→ Atenção: os aspectos
verbais são marcados geralmente por perífrases verbais ou por
sufixos, como -ecer
(que indica início: amanhecer, anoitecer) ou -ejar
(indica repetição: sacolejar, pestanejar).
As formas simples são as constituídas por
uma só palavra. As formas compostas são constituídas pelos verbos
auxiliares ter e haver + o particípio do verbo principal:
Eu tinha almoçado.
Alguns tempos possuem apenas formas
simples, outros, apenas a forma composta.
Não se pode esquecer que, além desses
tempos compostos, existem as locuções verbais, formadas por verbos
auxiliares (em geral, ser, estar, ter e haver) + verbo principal em
uma das formas nominais:
Eu estava caminhando.
Ele tinha sido convidado.
Lúcia vai ser convidada para o chá.
São aquelas que podem comportar-se como
nome (substantivo, adjetivo ou advérbio). Há três formas nominais em
português:
I.
Infinitivo: é o nome do
verbo; é a forma que mais se aproxima do substantivo e
freqüentemente ocupa o lugar de um sujeito:
Falar é prata, calar é ouro.
Há dois tipos de infinito:
a) o
impessoal,
que não se refere a nenhum ser em especial e não é flexionado;
b) o
pessoal
que se refere a uma das pessoas do discurso, sendo, portanto,
flexionado.
Emprego do infinitivo pessoal
Emprega-se o infinitivo pessoal basicamente,
quando o sujeito do infinitivo é diferente do sujeito do verbo da
oração principal:
Passei aqui para jantarmos juntos.
Jamais se usa o infinitivo pessoal em
locuções verbais:
Nós vamos trabalharmos.
II.
Particípio: é a
forma verbal que se aproxima do adjetivo e a única que
apresenta flexão de gênero:
Ela é conhecida por todos.
Ele é conhecido por todos.
Há alguns verbos que
apresentam mais de um
particípio, são os chamados verbos abundantes, como é o exemplo do
verbo tingir, cujo particípio pode ser tingido (particípio
regular) e tinto (particípio
irregular). Normalmente, os
regulares são utilizados com os verbos ter e haver (tempos compostos)
e os irregulares com os verbos ser e estar (voz passiva)
III.
Gerúndio: é a forma
verbal que se aproxima do advérbio, normalmente presente em orações
adverbiais reduzidas:
Só amando você pode ser feliz.
É necessário saber que temos dois tipos de
tempos verbais:
a)
tempos
primitivos - a partir dos quais os outros tempos se
originam: presente do indicativo,
pretérito perfeito do indicativo e
infinitivo impessoal;
b)
tempos
derivados - todos os tempos que se
originam dos primitivos.
Tabelas práticas para consulta:
As vozes verbais são três:
Ativa: quando
o sujeito é agente do processo verbal:
Jônatas plantou
uma árvore.
Passiva:
quando o sujeito é o paciente do processo verbal, isto é, ele não
age, mas é atingido pela idéia expressa pelo verbo:
Uma
árvore foi plantada por Jônatas.
Há dois tipos de voz passiva:
a) passiva analítica:
formada pelo verbo auxiliar ser (ou estar) + particípio do verbo:
Os livros foram
impressos há uma semana.
b) a
passiva sintética ou pronominal:
verbo + pronome apassivador se :
Imprimiram-se os
livros há uma semana.
c)
reflexiva: quando o sujeito agente faz e recebe
sua própria ação:
Jônatas feriu-se com a
faca.
(ENTRE PARÊNTESES)
A palavra “se” pode
funcionar como:
I. Conjunção
a) Integrante: Não sei se ela
aceitará.
b) Condicional: Choverá se ventar.
c) Índice de indeterminação do sujeito: Precisa-se de
braços.
II. Pronome oblíquo
a) Pronome reflexivo: Paulo cortou-se.
→ Pode ser substituído por
a si mesmo, a si próprio
b) Partícula apassivadora:
Não se alugou o
apartamento
O pronome apassivador “se” JAMAIS deve ser confundido com o
índice de indeterminação do sujeito “SE”.
Observe:
Viu-se ali uma cena
dantesca.
→ Observe que, nessa oração, o sujeito é “uma cena dantesca”, logo
temos uma passiva sintética. Pode-se substituir o SE da oração
anterior pelo verbo SER + o particípio do verbo principal
correspondente: Uma cena dantesca foi vista
ali.
Entretanto, nesta oração:
Tratava-se de um
novo contato.
→ Sendo seu verbo transitivo indireto (atente para a
preposição após o verbo), não se pode formar voz passiva. ( →
JAMAIS se forma passiva com verbos transitivos indiretos,
intransitivos e de ligação.) Neste caso, “um novo contato” não pode
ser sujeito do verbo anterior por dois motivos:
→
o sujeito jamais pode ser preposicionado
(salvo em: Não havia a menor intenção de as pessoas
terminarem a obra.); Justamente por isso sou obrigado a acabar
com a elisão da preposição de + o
artigo as
→
não é possível fazer a substituição do SE
em destaque pelo verbo SER + o particípio do verbo principal
correspondente:
De um novo contato era tratado. (!)
c) Partícula integrante do verbo
→ Há verbos que são essencialmente pronominais e
conjugados com o pronome. Não se deve confundi-los com os verbos
reflexivos, que são, acidentalmente, pronominais. Os verbos
essencialmente pronominais geralmente se referem a sentimentos e
fenômenos mentais: indignar-se, ufanar-se, atrever-se, admirar-se,
lembrar-se, esquecer-se, orgulhar-se, arrepender-se, queixar-se,
etc.:
Pedro se orgulha de sua
gente.
d) Partícula
expletiva ou de realce
→
quando seu uso não é rigorosamente necessário, ocorrendo ao lado de
verbos de movimento ou que exprimam atitudes da pessoa em relação ao
próprio corpo como ir-se, partir-se, chegar-se, rir-se, sentar-se:
Todos se partiram bem cedo.
e) Sujeito de um infinitivo
→ os pronomes oblíquos atuarão como sujeito após os
verbos auxiliares causativos (deixar, mandar e fazer) e sensitivos
(ver, ouvir, sentir etc.) quando seguidos de objeto direto na forma
de oração reduzida:
Deixou-se ficar à janela o dia todo.
Deixou-se → oração principal
ficar à janela o dia todo. → oração
subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo
Portanto,o se da oração 1 (Deixou-se) é o sujeito da 2 (ficar
à janela o dia
todo).
Da mesma forma em:
O irmão deixou-se envolver por más companhias.
Lúcia deixou-se guiar pelo cão ensinado.
(ENTRE PARÊNTESES)
Classificação dos verbos
I. Regulares
são aqueles cujos radicais não se alteram e cujas terminações
obedecem ao paradigma da conjugação a que pertencem.
II. Irregulares
são aqueles que apresentam irregularidades no radical ou nas
terminações.
III. Anômalos
são aqueles que apresentam profundas modificações em seus radicais.
Há dois na Língua Portuguesa: ser ou ir.
IV. Defectivos são aqueles
que não possuem todas as formas.
a) verbos impessoais: anoitecer, chover,
gear, ventar, que só se conjugam na 3ª pessoa do singular;
b) verbos que indicam
vozes de animais: latir, cacarejar, relinchar, que só se
conjugam na 3ª pessoa do singular (ele) e do plural (eles).
c) verbos que, normalmente, por motivos
eufônicos não apresentam todas as formas e cuja maioria pertence a
3ª conjugação (-ir). Exemplos: abolir, banir, colorir, extorquir (não
têm a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo); falir,
precaver (só têm 1ª e 2ª pessoas do plural – nós, vós – no presente
do indicativo).
V. Abundantes são aqueles
que apresentam mais de uma forma para uma mesma flexão:
a) verbo haver: hemos/havemos
b) particípio duplo: imprimido (regular),
impresso.