Ideias (bem) gerais
Para
melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o
estudo dos elementos da comunicação.
A partir deles, Jakobson distinguiu seis funções de linguagem,
relacionando cada uma delas a um dos componentes do processo
comunicativo. Desta forma, em cada ato de fala, dependendo de sua
finalidade, destaca-se um dos elementos da comunicação, e, por
conseguinte, uma das funções da linguagem.
Cada um desses seis fatores determina uma
diferente função da linguagem. Embora distingamos seis aspectos
básicos da linguagem, dificilmente lograríamos, contudo, encontrar
mensagens verbais que preenchessem uma única função. A diversidade
reside não no monopólio de alguma dessas diversas funções, mas numa
diferente ordem hierárquica de funções. A estrutura verbal de uma
mensagem depende basicamente da função predominante. Mas conquanto
um pendor (Einstellung) para o referente, uma orientação para o
CONTEXTO - em suma, a chamada função REFERENCIAL, "denotativa",
"cognitiva" - seja a tarefa dominante de numerosas mensagens, a
participação adicional de outras funções em tais mensagens deve ser
levada em conta pelo linguista atento. (pág. 123)
A função
emotiva
A chamada função EMOTIVA
ou "expressiva", centrada no REMETENTE, visa a uma expressão direta
da atitude de quem fala em relação àquilo de que está falando. Tende
a suscitar a impressão de uma certa emoção, verdadeira ou simulada;
por isso, o termo "função emotiva", proposto e defendido por Marty,
demostrou ser preferível a "emocional". O estrato puramente emotivo
da linguagem é apresentado pelas interjeições. Estas diferem dos
procedimentos da linguagem referencial tanto pela sua configuração
sonora (seqüências sonoras peculiares ou mesmo sons alhures incomuns).
(p. 123-124)
A função conativa
A orientação para o
DESTINATÁRIO, a função CONATIVA, encontra sua expressão gramatical
mais pura no vocativo e no imperativo, que sintática, morfológica e
amiúde até fonologicamente, se afastam das outras categorias
nominais e verbais. As sentenças imperativas diferem
fundamentalmente das sentenças declarativas: estas podem e aquelas
não podem ser submetidas à prova de verdade. (...) (pág. 125)
A função fática
Há mensagens que servem
fundamentalmente para prolongar ou interromper a comunicação, para
verificar se o canal funciona ("Alô, está me ouvindo?"), para atrair
a atenção do interlocutor ou afirmar sua atenção continuada ("Está
ouvindo?" ou, na dicção shakespereana, "Prestai-me ouvidos!" - e, no
outro extremo do fio, "Hm-hm!"). Este pendor para o CONTATO ou, na
designação de Malinowski, para a função FÁTICA, pode ser evidenciada
por uma troca profusa de fórmulas ritualizadas, por diálogos
inteiros cujo único propósito é prolongar a comunicação. (pág. 126)
A função metalinguística
Uma distinção foi feita,
na Lógica moderna, entre dois níveis de linguagem, a "linguagem-objeto",
que fala de objetos, e a "metalinguagem", que fala da linguagem. Mas
a metalinguagem não é apenas um instrumento científico necessário,
utilizado pelos lógicos e pelos linguistas; desempenha também papel
importante em nossa linguagem cotidiana. Como o Jourdain de Molière,
que usava a prosa sem o saber, praticamos a metalinguagem sem nos
dar conta do caráter metalinguistico de nossas operações. Sempre que
o remetente e/ou o destinatário têm necessidade de verificar se
estão usando o mesmo código, o discurso focaliza o CÓDIGO;
desempenha uma função METALinguística (isto é, de glosa). (pág. 127)
A função poética
Destacamos todos os seis fatores envolvidos na
comunicação verbal, exceto a própria mensagem. O pendor (Einstellung)
para a MENSAGEM como tal, o enfoque da mensagem por ela própria, eis
a função poética da linguagem. Essa função não pode ser estudada de
maneira proveitosa desvinculada dos problemas gerais da linguagem e,
por outro lado, o escrutínio da linguagem exige consideração
minuciosa de sua função poética. Qualquer tentativa de reduzir a
esfera da função poética à poesia ou de confinar a poesia à função
poética seria uma simplificação excessiva e enganadora. A função
poética não é a única função da arte verbal, mas tão somente a
função dominante, ao passo que, em todas as outras atividades
verbais, ela funciona como um constituinte acessório, subsidiário.
(pp. 127-128)
O gênero poético e funções
Conforme dissemos, o
estudo linguístico da função poética deve ultrapassar os limites da
poesia, e, por outro lado, o escrutínio linguístico da poesia não se
pode limitar à função poética. As particularidades dos diversos
gêneros poéticos implicam uma participação, em ordem hierárquica
variável, das outras funções verbais a par da função poética
dominante. A poesia épica, centrada na terceira pessoa, põe
intensamente em destaque a função referencial da linguagem; a
lírica, orientada para a primeira pessoa, está intimamente vinculada
à função emotiva; a poesia da segunda pessoa está imbuída de função
conativa e é ou súplice ou exortativa, dependendo de a primeira
pessoa estar subordinada à segunda ou esta à primeira. (pág. 129)
Em resumo, a análise do
verso é inteiramente da competência da Poética, e esta pode ser
definida como aquela parte da Linguística que trata a função poética
em sua relação com as demais função da linguagem. A Poética, no
sentido mais lato da palavra, se ocupa da função poética não apenas
na poesia, onde tal função se sobrepõe às outras função das
linguagem, mas também fora da poesia, quando alguma função se
sobreponha à função poética. (pág. 132)
Bibliografia:
JAKOBSON, Roman.
Linguística e
Comunicação. São Paulo: Cultrix, 2005.